Segundo Mark Looney, autor principal do estudo, isso significa que os pulmões humanos podem realizar uma função totalmente inesperada: a produção de sangue. “Esse achado definitivamente sugere uma visão mais sofisticada dos pulmões – que eles não são apenas para a respiração, mas também um parceiro fundamental na formação de aspectos cruciais do sangue”, disse o cientista em um comunicado.
A pesquisa, publicada na revista Nature, foi possível graças a uma técnica de microscopia em vídeo desenvolvida por Looney e o coautor do estudo, Matthew Krummel. O método permite que as plaquetas brilhem para que os cientistas visualizem células individuais em vasos sanguíneos minúsculos dentro dos pulmões de um rato vivo. Durante a realização de três experimentos, eles observaram uma grande quantidade de células produtoras de plaquetas, os chamados megacariócitos, na vasculatura pulmonar do animal.
Os megacariócitos já foram vistos nos pulmões em estudos diferentes, mas a medula óssea sempre foi apontada como um importante local de produção de plaquetas. Agora, as imagens adquiridas pelos cientistas revelaram que essas células produzem mais de 10 milhões de plaquetas por hora nos pulmões dos ratos. “A contribuição dos pulmões para a biogênese plaquetária é substancial, representando aproximadamente 50% da produção total de plaquetas (do camundongo)”, explicam os autores no estudo. Além dessa descoberta, os pesquisadores identificaram mais de um milhão de células-tronco por pulmão, localizadas fora dos capilares pulmonares. Essas células são importantes, pois elas podem se transformar em quase qualquer tipo de célula (nesse caso, as sanguíneas).
De acordo com o estudo, as células-tronco “podem migrar para fora dos pulmões, repovoar a medula óssea e reconstituir completamente a contagem de plaquetas.” Assim, o que ele sugere é que, caso a medula óssea pare de funcionar e não produza mais células sanguíneas, os pulmões podem fazer esse trabalho. “Estamos vendo cada vez mais que as células-tronco que produzem o sangue não apenas vivem em um lugar, mas viajam ao redor da corrente sanguínea. Talvez “estudar no estrangeiro”, em diferentes órgãos, é uma parte normal da educação das células-tronco”, disse Looney.
No comunicado, os cientistas apontaram que os resultados têm relevância clínica direta e levanta vários questionamentos para futuros estudos sobre doenças inflamatórias, sangramentos, tromboses e transplantes pulmonares. Porém, vale ressaltar que o estudo foi feito apenas com camundongos. Por isso, ainda é preciso esperar pelos testes com seres humanos para confirmar essa teoria.
Marina Demartini, Revista Exame
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